quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Congresso celebra 50 anos da OCB



               

Lasier Martins (Podemos-RS) citou projeto de lei de autoria do Deputado Giovani Cherini  (PL 2.107/2019) que torna o padre suíço Theodor Amstad patrono do cooperativismo brasileiro.


                O Dia Internacional do Cooperativismo e os 50 anos da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) foram celebrados em sessão solene do Congresso Nacional nesta quinta-feira (4). O sucesso do movimento cooperativista, que em 2018 gerou receitas de R$ 260 bilhões, e a certeza de que o futuro se mostra ideal para a ampliação do modelo, com seus ideais de empreendedorismo, compartilhamento e coletividade, foram ressaltados durante a sessão.
A OCB foi criada em 2 de dezembro de 1969, e o Dia Internacional do Cooperativismo é celebrado em 6 de julho.
— Temos a certeza de que o futuro é cooperativista, as novas gerações são e querem o cooperativismo. Hoje celebramos 50 anos com orgulho, e também iniciamos nossa jornada rumo aos próximos 50 — disse o presidente da OCB, Márcio Freitas.
O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) — autor do requerimento para a homenagem, ao lado do deputado Evair de Melo (PP-ES) — registrou que o movimento cooperativo remete ao pensamento coletivo, de união comunitária para enfrentar os desafios e facilitar o desenvolvimento, permitindo mais integração entre produtores e consumidores.
— Cooperar, de onde brota o sentido maior do cooperativismo, nos remete ao elo frágil, aos consumidores, algo que não é tão explorado quando o tema é abordado. O consumidor é a razão de ser das cooperativas que pensam e funcionam em um grau de excelência que ultrapassa o lucro pelo lucro, voltando-se ao consumidor ao mesmo tempo que une os produtores em função da oferta de melhores serviços numa plataforma diferenciada de desenvolvimento — disse.
Lasier Martins (Podemos-RS) citou projeto de lei dele (PL 2.107/2019) que torna o padre suíço Theodor Amstad patrono do cooperativismo brasileiro. Segundo o senador, a rigor, o cooperativismo no país nasceu no Rio Grande do Sul, fruto do trabalho do religioso para a facilitação de acesso ao crédito rural.
Agência Senado

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

O Desabafo do Marreco. Ele permaneceu na roça. Mal sabia ele o preço que teria que “pagar” para usufruir do “paraíso”.




Texto de LUIZ ROBERTO DALPIAZ RECH

Dias desses resolvi visitar o “Marreco”. Pensei comigo, visitá-lo durante a semana será um desperdício, afinal, o trabalho na roça não tem descanso. “Marreco” deve estar removendo a terra com arado de bois, realizando alguma roçada, ou simplesmente, limpando o feijão preto em alguma roça do morro.
Enganei-me. Ao chegar às proximidades da casa já o avistei, sentado a varanda, olhando firme o horizonte.
Comentei com a minha esposa. O “marreco” só pode estar doente para estar assim, plantado que nem pé de couve. Mal estacionara o carro, fomos recebidos com euforia pelo guaipequinha faceiro, que contrastava com o semblante sério e sizudo do tio agricultor.

Depois de um – “sai pra lá vinagre” - meio anasalado, o “marreco” veio em nossa direção a passo lento, mas, com ares de decidido.
- Pués então sobrinho, que ventos te trazem aqui?
- Saudades da terra e de todos, tio “marreco”, respondi.
- Pués então, tchê, mate logo a saudades antes que eles nos expulsem daqui.
- Como assim tio, quem é que quer te expulsar, se a casa é tua, a propriedade também (foi herdada do meu avô), não estou entendendo, afirmei.

- Mas então tu não sabes? – perguntou, meio assombrado. - Tá todo mundo dizendo que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.
“Veja só: o sítio de meu pai, que agora é meu, fica a 17 km da cidade. A água do poço daqui lembra? Limpa, pura, que a vovó servia pra ti e os primos, nos arretouços da infância? Pois é a mesma água com que ela criou 5 filhas e seis filhos. Não faz muito, um homem do governo passou aqui e disse que tenho que fechar o poço, fazer uma tal de outorga, pagar umas taxas e mais um monte de coisas.

Eu lhe disse: – Moço, mas foi meu pai que cavô... E ele respondeu: é um caso de saúde muito sério! - e foi embora.
Sem falar na produção do fumo, sobrinho. Antes, eu, a mulher e tua prima Lia, dávamos conta do recado, mas tive que mandar a Lia pra cidade, depois que vi uma reportagem na televisão: eu podia ser acusado de exploração de menor! Já pensou? Ela me ajudava muito no cultivo do fumo; ficando sozinho, tu sabes como tudo é trabalhoso, arar a terra, preparar as mudas, plantar, colher, secar na estufa, fazer manoco, prensar, tive que contratar um ajudante. Ainda te lembras do Rui? Pois é, se foi para cidade e pediu trabalho para o filho dele, que não tinha nem onde morar. Assinei-lhe a carteira, como manda a lei. E dei-lhe o quarto da nossa filha. Faceiro, que nem gringo de tamanco novo, já fazia parte da família. Mas vieram umas pessoas da Delegacia do Trabalho, e falaram que se o empregado (para mim - um filho!) fosse cuidar da estufa à noite, tinha que receber adicional noturno, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo. Tu já trabalhaste no fumo, né, sobrinho, então tu sabes do que estou falando. Como é que vou desligar a estufa e parar a secagem nos finais de semana? Ele também me ajudava no leite, que é outra fonte de renda aqui em casa, garantida pela Cooperativa que compra a produção. Como vou dizer pra vaquinha que agora o leite tem dia e hora pra ela soltar?
O pessoal da Delegacia do Trabalho foi examinar o quarto do empregado. Acharam a cama curta, claro, era da minha filha, menor que ele. Olha, sobrinho, se ele ficava com os pés de fora, pra mim nunca se queixou! Ainda bem que eu tinha trocado, uns dias antes, o lampião a querosene pela luz que recém chegou através do programa do governo, senão iam me processar por isso também.

Sabe a comida gostosa que tua tia faz? O Vanil, nosso empregado, comia com a gente na mesa (era, como eu disse, da família!). Explicaram-me que, por lei, a comida tinha que integrar o salário dele. Quando foram embora, cheio de tristeza, chamei o Vanil e não contendo as lágrimas, o despedi. No outro dia ele pegou o ônibus e foi pra cidade. Depois, disso, a última notícia que tive dele é que foi parar numa delegacia, o agrediram e ficou deficiente de um ouvido.
Sem a ajuda do Vanil parei com o fumo. Comprei mais uma vaquinha e a mulher ajuda, apesar das dores que adquiriu nas cadeiras e da bexiga caída desde que ganhou a nossa filha. Às 5 da manhã eu levo o tarro até a estrada e espero pacientemente o caminhão da Cooperativa. Se chove, nem saio de casa. O riacho enche e quem se diverte com o leite são os porcos. Melhor, se divertiam, hoje o leite vai todinho fora.
Agora, vieram outros homens aqui, e um policial, dizendo que eu tinha que encerrar a criação de porcos, pois o chiqueiro estava a menos de 20m do riacho. Deram-me um prazo para resolver o problema. Medi aqui, medi ali e nada de conseguir chegar aos 30 metros exigidos. Ganhei uma multa tão pesada, que nem a nossa mula podia carregar! O dinheiro da venda dos porquinhos, das tábuas e das telhas foi insuficientes para pagar. Tive que recorrer a uma poupancinha da minha filha, que juntara durante anos para quando casasse. Deu processo, fui chamado pelo promotor. Tive que levar junto um advogado, tentei lhe pagar com o leite da Malhada e meia dúzia de ovos da Marilu, mas ele não aceitou. Ainda bem que a Cooperativa me salvou de novo. Condenado, tive que pagar 2 cestas básicas e dar para uma comunidade carente. Disseram que eu estava poluindo o rio e poderia até ser preso.

Já pensou eu na prisão, sobrinho? O que iam dizer de mim na comunidade? Com que cara eu iria à missa aos domingos, à cancha reta, ao jogo do osso? Eu seria capaz de cometer uma bobagem!!
Então eu te pergunto: lá onde tu moras, na cidade grande, também tem rio, riacho ou coisa parecida? Tem! Quer dizer que cada um que joga alguma coisa no rio também é multado? Coitada dessa gente! Se aqui é assim, imagina lá. Deve ter muito mais gente multada, e não deve existir nenhum tipo de lixo...

Só sei que aqui no mato a gente não pode sujar o rio. Muito menos cortar uma árvore, tirar um cabo de ancinho, de enxada ou de machado sem autorização do pessoal do batalhão ambiental.
Noutro dia multaram o Nozari. Lembra do Nozari, né, que estudou contigo? Jogava uma bola! Ganhando um dinheirinho na cidade, voltou pra cá pra cuidar da terra do falecido pai dele. Pois então, juro pelos meus olhos: ele levou uma multa do batalhão, tão grande, que nem vendendo tudo o que tem na vida paga a metade dela. É um dinheirão. Ele até contratou um doutor para recorrer. O crime dele foi querer plantar. Tinha que ver o desencanto dele. Chegou a dizer pra mim: “marreco”, eu não sabia que não podia aumentar a área da minha rocinha. Se pelo menos tivesse falado no colégio o meu filho teria avisado.

E, para variar, comigo aconteceu algo parecido com o Nozari. Sabe aquele pinheiro que o tio Arcanjo havia plantado? Pois é, resolvi aproveitar a madeira antes que destruísse o nosso galpão.
Ressabiado, fui até o batalhão pedir autorização. Preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vir fazer o tal de laudo e, então, autorizar o aproveitamento da madeira. Passou uma semana, duas, três e nada. Cada ventinho que batia eu via o galpão vindo abaixo com a queda do pinheiro. Um dia falei pra mulher: chega de esperar e meti o machado nele! Dito e feito. Parece que o pessoal do batalhão ouviu o estrondo da árvore e no dia seguinte apareceram pra me multar. Logo pensei no caso dos porcos, no promotor, nas cestas básicas. Passei uns três dias tomando chá de laranjeira para me acalmar. Pensei: se a multa for que nem a do vizinho vou ter que vender o sitio para pagá-la. Se não pagar me processam e ainda sou capaz de perder a terra e tudo o que consegui até hoje. Não quero ficar com uma mão na frente e outra atrás que nem o Antonio. O caso dele não foi por causa dos homens do batalhão, mas por ter comprado um tratorzinho. A coisa não andou como ele queria, muita seca, produziu pouco e não conseguiu pagar o financiamento. O Banco não perdoou. Sem a máquina, ele vai ter que arar com os bois. É mais trabalhoso e lento, mas fazer o quê!

Tou preocupado sobrinho. Dizem que os deputados vão aprovar uma nova lei ambiental e que a coisa vai arrochar ainda mais para o nosso lado. O rádio não para de falar nisso. Noutro dia assisti a uma palestra onde um doutor disse que vamos ter que nos adaptar as novas normas que vem por ai. É a tal de reserva legal. A rádio disse que quem tiver uma sanguinha na propriedade, que é o meu caso, vai ter que plantar 30 metros de mata de cada lado.
O homem falou de mais um monte de normas que vamos ter que nos adequar. São tantas que nem lembro direito.
Será que estas novas normas também valem para a pessoal da cidade?

Olha sobrinho, é melhor vender tudo e ir para a cidade grande. Lá não tem problema nenhum. Com o dinheiro do sitio compro uma casinha, com luz elétrica, TV sem parabólica e não precisa criar porco, galinha e produzir alface, leite, queijo, chimia. É só abrir a geladeira e tá tudo ali. Também vou comprar um telefone, muito útil em casos de emergência, e o hospital fica perto. Eu e tu vamos ser vizinhos na cidade. Nem vou contar que vim do interior, senão o promotor vai mandar me prender dizendo que fugi dos meus “crimes” lá no campo!

O “marreco”, para informação do leitor, é meu tio. Temos praticamente a mesma idade. Estudávamos juntos na escola Hilário Ribeiro na comunidade da Barra do Ouro, interior do município de Maquiné. Aos 15 anos eu decidi ir para a cidade. O Marreco ficou. Ficou com o sitio, cuidando da plantação, respirando ar puro, sentindo o cheiro da mata, vendo o cintilar das águas puras dos rios e ouvindo o pampeano cantar das saracuras. Mal sabia ele que o preço que teria que “pagar” para usufruir deste “paraíso”.

A minha vida na escola agrícola de São Leopoldo – PATROPI


A minha vida na escola agrícola de São Leopoldo – PATROPI
Luiz Roberto Dalpiaz Rech

Cheguei à Escola Agrícola em 1978, pelas mãos do meu tio, Valmor Dalpiaz, então aluno do último semestre do Curso de agricultura.
No pavor do primeiro dia, indaguei: - O que estou fazendo aqui? Pudera, com 15 anos, estava enfrentando o afastamento de casa, os trotes dos veteranos, as precárias condições da escola (não tinha chuveiro quente), a comida pouca e um mundo totalmente estranho a ser descoberto.
Suportei a primeira semana, a segunda e, na terceira, comecei a me ambientar, principalmente, com um grupo de amigos simpático que se formou e que, até hoje, guardo na minha lembrança.
A verdade é que, cada acontecimento vivido na escola agrícola, se encontra registrado na minha memória, com forma, cor e emoção. Recordo os bons momentos, quando fiz parte de algumas gestões no Grêmio Estudantil (uma verdadeira escola de líderes e que projetou muitos alunos mundo a fora).
A melhor gestão foi a do Paulo Fernando da Rosa, um líder que apareceu na escola e que, em pouco tempo, pode mostrar toda a sua capacidade. Na sua gestão, em 1980, atuei como Diretor de Imprensa e Divulgação, quando lançamos o Boletim Informativo do Cecal. Ajudei a organizar o Concurso Miss Simpatia, promovemos vários eventos, iniciamos e concluímos a quadra de esportes, a obra do prédio do Grêmio, o “Galpão Crioulo Índio Sepé” e o Grupo de Danças do nosso CTG “Gaudérios da Cultura”, que fazia sucesso com suas apresentações dentro e fora do município de São Leopoldo.
Tempos difíceis, lembro que na ocasião da realização do Concurso Mis Simpatia, sendo eu o apresentador, não tinha um par de sapatos para usar. Morava com o Daniel Fantin e Alcir Brustolin, ambos de Muçum, num quarto escuro úmido (no inverno parecia a Sibéria!), no porão da Dona Olga, mãe do senhor Albano, cozinheiro da escola.
Então me lembrei que o Brustolin guardava seus sapatos a “sete chaves”. Como ele estava fora, resolvi “assaltá-lo” (a mão desarmada, é claro!), pegando-os do armário onde ele os guardava. Quando eu estava quase chegando ao local da apresentação, ele me viu e não deu outra: fez um escândalo babilônico e quase teve um treco (como se dizia na época).
 Mas, coração de gringo e coração de mãe não tem diferença: ao ver que era para uma boa causa social – afinal a bela Miss fazia jus à vitória! – ele não me mandou para a cadeia. Este fato, porém, serve para mostrar que as dificuldades dos alunos eram muitas. Seguidamente um emprestava a outro sua toalha, alguma roupa, sabonete e até pasta de dente. Meu colega Antônio Cetolim cansou de emprestar seus chinelos e tê-los de volta... arrebentados! Hoje é prefeito de Garibaldi pela terceira vez. O que prova a eficácia política dos chinelos!
São tantas cenas agradáveis de lembrar... Um dos mais marcantes aconteceu na Feitoria durante um jogo de futebol. O colega Batistella foi abordado por um sujeito com fama de bandido chamado de “Chocolate”, que lhe pediu fogo para acender o cigarro. Batistella com atenção no jogo se fez de surdo. O maleva, então, magoou, e para demonstrar isso ao público, baixou imediatamente um “três listras” (facão) no lombo do sem ouvido! Meno male que o outro ainda conseguiu evitar alguns pranchaços, dizendo aos pulos:
- Escuita aqui, ô meu, onde tá o diabo do respeito?!”
A turma que assistiu o episódio afirmou que o facão era da marca Tramontina, e que ela ficou gravada no lombo do único cuera do Colégio Agrícola que enfrentou o terrível bandido da feitoria! Provavelmente está até hoje... Zilmar Batistella atualmente é empresário bem sucedido em Butiá, RS. O que prova, mais uma vez, que umas boas lambadas podem por alguém no caminho do sucesso!
De qualquer modo, ele já demonstrava que seria empreendedor.  Uma vez conseguiu me vender uma camisa velha cheirando a sovacos, usada para amarrar sua cama, que rangia durante a noite na sua luta de cinco dedos...
 Muitos fatos marcaram a nossa passagem na escola. Sei que não é o propósito deste livro, mas não tem como fazer um relato íntegro sem lembrar os mais destacados deles... Lembro de um aluno de São Nicolau, que o colega Eliziário Toledo, sempre que lhe enxergava, dizia: - Tchê, tu é mais feio que briga de foice no escuro! Mais feio que tu só dois tu!
Notaram que evito neste depoimento, dizer os apelidos pelos quais éramos conhecidos na escola. Mas o meu era... bem, prometi não dar os apelidos. Pois bem. Certa vez numa excursão da escola, lá estava ele, o próprio, abocanhando tudo o que encontrava pela frente: laranja, pão, queijo, o mundo! Ocorreu, porém, no momento em que – imitando uma jibóia - tentava engolir um pedaço enorme de mortadela, a dentadura postiça desceu junto, ficando entalada na garganta.
A gargalhada foi geral, mas, diante do quadro de dor do colega, decidiu-se fazer alguma coisa. Uma bordoada de lutador de boxe certeira, dada não sei por quem, bem no meio das costas da jibóia, ops, quero dizer, do colega, fez com que a dentadura saltasse a quase três metros de distância, e, ao pegá-la, a teimosa ainda tentava devorar a pobre mortadela, que já estava morta... por medo dela! Depois deu um leve sopro para tirar a sujeira e pronto, colocou-a no lugar.
Em outra excursão a Capão da Canoa, com a professora Sirlei Souza e alunos de diversas turmas, estava um colega natural de Santa Catarina. Para esse vou quebrar minha promessa de não dar o apelido: chamavam-no simplesmente de Bunda! Sofria para tirar notas boas nas provas e quando tirava três, de tão feliz, soltava rojões e enfeitava o pátio com bandeirinhas!
 Chegando à praia, ele logo saltitou para a água, segurando o calção com as duas mãos para não cair. Veio a primeira onda, enorme, e ele não se conteve: surfista improvisado, se atirou com tudo e ninguém viu mais nada no meio da tromba d’água. Quando tudo acalmou, só o que apareceu foi o calção azul celeste boiando para longe da praia, mas e o Bunda?, gritou a professora Sirlei, habituada aos apelidos exóticos dos seu alunos. Quando corríamos para procurá-lo, ele aparece de repente, gesticulando quase na rebentação, soltando água pela boca e nariz, berrando: - Cadê o meu carção? O meu carção pelo amor de Deus! Não teve jeito: teve que sair de lá como Adão veio ao mundo... A turma se entortava de rir, e a mestra também, ao ver o Bunda de bunda de fora.
Falar dos tempos de escola agrícola e não mencionar as “gringas” pode até soar como descaso àqueles que tiveram a oportunidade de iniciar a vida sexual com elas. Estratégias eram usadas por alguns alunos, com o propósito de atrair as gringas, altas horas da noite. Pelo menos, em uma delas, comprovou-se o real motivo, até porque, este foi relatado por um dos dois envolvidos. Participavam de um baile na Feitoria Velha, a madrugada chegava e nada. Resolveram voltar para a escola. Um deles, porém, não se conteve e convidou o outro para fazer uma boa ação: chegar nas gringas. Dito e feito. Já no local do desejo, um deles, o mais carente, tirou do bolso a caixa de fósforos com todo o dinheiro do semestre e se grudou no “osso” (a gringa) que nem carrapicho em calça de lã. Ela, claro, pareceu gostar, e, ao ver a caixinha, passou a pegar palitos e mascar a pólvora, só que dinheiro vinha grudado. O bobo quando percebeu a astúcia, começou a gritar, desesperado, mas sem largar o “osso”.
Dizem que os gritos chegaram lá para as bandas da casa onde residia o professor Casinha, perto da horta, e que os mesmos foram diminuindo, diminuindo e só silenciaram quando ele soltou o “osso”: estava mais pobre que São Francisco de Assis!
Não tenho dúvidas que essas lembranças dariam um livro muito extenso ou vários livros. Relato alguns para mostrar apenas como era no meu tempo a vida na escola agrícola. Não há como esquecer o colega Arli da Silva, de Osório, que foi Patrão do CTG “Gaudérios da Cultura”. Certa oportunidade, na EXPOINTER, ele, acompanhado dos alunos da sua turma, assistiam ao leilão de um novilho.
Sem um tostão no bolso, mas disposto a se exibir, ele resolve dar um lance: a última oferta beirava em quinhentos (sei lá o quê) quando, de repente, ergue o braço, incha o peito e berra para todos ouvirem: - Dou seiscentos!... - É uma... é duas... é do doutor da boina escura! Como não houve mais lance, se apavorou e sem saber o que fazer, pensou depressa e saiu-se com esta: - O que eu disse foi: Não sei se sento... ou fico em pé, e não seiscentos! Em seguida sumiu no meio da multidão com os colegas que temiam pelo pior.
Lá na escola agrícola comecei a escrever poesia tradicionalista, que, por sinal foi tema do meu primeiro livro. Também fazia versos rimados em cima de fatos pitorescos envolvendo colegas que depois, ao serem lidos, eram motivos de fragorosas gargalhadas. Nos finais de semana, para arranjar algum dinheiro, trabalhava em capinas de pátios, roças e reformas de jardins com o professor Casagrande, muitas vezes com grande cansaço e sofrendo lesões (a cicatriz em um dos dedos da mão direita que o diga).  Às vezes realizava trabalhos voluntários com um grupo de estudantes de nutrição da Unisinos, ensinando famílias da periferia da cidade de São Leopoldo a fazerem pequenas hortas.
Trago, também, uma frustração: não pude concorrer a presidente do Centro dos Estudantes em 1981, substituindo Paulo Fernando da Rosa. À época, a direção da escola invocou normas do Regimento Interno para me impedir. Decidimos, mesmo assim, eu os membros da chapa, a enfrentarmos o obstáculo, quando o professor Raul Casagrande, pai da colega Sabine Casagrande, da nossa chapa, pediu que eu desistisse sugerindo o nome de João Clóvis Lorenzi, de Espumoso. 
Então fui cuidar da festa de formatura, realizada no final do ano de 1981, com a honra de ter sido o orador das três turmas (Agricultura, Pecuária e Florestal). Sai da escola e fui fazer estágio na Maderzori, em São Francisco de Paula, tendo como supervisor, o ex-aluno Roberto Poletto. Trabalhei, ainda, por cinco anos, na Florestal Guaíba. Em 1987 ingressei na Assembléia Legislativa onde permaneci por 23 anos. Hoje, sou servidor da SEAPA, cedido para a Câmara Federal.
E vá a gente dormir com um barulho deste!


quarta-feira, 7 de agosto de 2019

SENADO APROVA PADRE AMSTAD PATRONO DO COOPERATIVISMO



A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) aprovou no dia 6 de agosto, o projeto (PL 2.107/2019) que concede o título de patrono do cooperativismo brasileiro para o padre Theodor Amstad.  O Projeto de Lei de iniciativa do Deputado Federal Giovani Cherini, membro da Frente Parlamentar de Apoio ao Cooperativismo do Congresso Nacional, têm como objetivo homenagear o Padre Theodor Amstad  pelo fato de ser considerado o introdutor do cooperativismo no Brasil. Ele nasceu em 9 de novembro de 1851, em Beckenried, no cantão de Urwalden. Veio para o Brasil em 1885, quando começou a prestar assistência econômica, social e cultural aos colonos do Rio Grande do Sul. Para tanto, deu início ao movimento de fundação das associações de lavradores, cooperativas e caixas Raiffeisen. Amstad fundou, na Colônia “Nova Petrópolis”, a primeira caixa de depósitos e empréstimos do sistema cooperativista do Brasil. Muitas outras cooperativas foram criadas graças a sua iniciativa. Antes que o governo baixasse a primeira legislação sobre o cooperativismo, em 1907, o padre Amstad já havia elaborado (em 1903), as primeiras diretrizes para a constituição de cooperativas. Em 1924, seus escritos sobre a presença alemã no Rio Grande do Sul foram editados no livro Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul 1824-1924. Foi nessa zona de colonização alemã que o padre jesuíta Theodor Amstad morreu, em 7 de novembro de 1938. Importante destacar que o Padre Theodor Amstad é considerado Patrono das Cooperativas do Rio Grande  do Sul através da Lei nº  11.995/03.