por Ênio Meinen
Estamos no mês em que se dá a largada para a mais importante
competição esportiva do mundo, tendo o Brasil como sede.
O futebol, que por si
só já exerce uma grande atração, assume especial protagonismo nesses dias,
sendo tema de candentes e apaixonados debates ao redor do Planeta. Tanto aqui
como na Inglaterra, versado em um só “idioma”, será esse o assunto principal
das conversas de rua, ônibus, botecos e até mesmo de reuniões de executivos não
convocadas para esse fim!
E por falar em Inglaterra, é precisamente lá
que começam as coincidências entre o esporte das multidões e o cooperativismo.
Foram os ingleses, com efeito, que, em 1844, deram origem ao movimento
cooperativo tal como o conhecemos hoje, e também é deles o pioneirismo do
futebol moderno, porquanto, em 1863, lá fundaram a primeira associação de
clubes (Football Association – FA, atual versão da Federação Inglesa), sob a
qual criaram as primeiras regras do futebol atual.
Cooperativas e clubes de futebol são espécies
do mesmo gênero societário, organizando-se sob a égide de entidades
associativas, de 1º, 2º e 3º níveis (cooperativas singulares, centrais e
confederações x associações, federações e confederações de futebol). Há, até, situações em que o futebol se
estrutura sob o modelo jurídico-cooperativo propriamente dito. É o caso, por
exemplo, do FC Barcelona, time mais conhecido, vitorioso e admirado do mundo –
com 150 milhões de torcedores -, congregando cerca de 175.000
sócios/cooperados. Ao seu lado, outro clube espanhol opera sob bases
genuinamente cooperativistas. Trata-se do Real Madrid, atual campeão da “UEFA
Champions League”, principal competição interclubles depois do mundial da
categoria (vide “The Success of the cooperative model in football”:
www.sommetinter.coop/cms/success-cooperative-model-football)
O futebol tomou o Globo, assim como o
movimento cooperativo. Hoje, aquele é o maior fenômeno social da humanidade
(capaz de reunir 3,2 bilhões de pessoas para acompanhar a final da Copa de
2010, sendo praticado por 265 milhões de atletas, segundo dados da Fifa), ao
passo que o cooperativismo, como expressão socioeconômica, forma a maior
organização não governamental do mundo, com mais de 1 bilhão de membros
(considerando o conjunto familiar dos sócios, estima-me pelo menos 3 bilhões de
envolvidos com a causa). Como já dizia Vinícius de Moraes, o futebol é uma
“paixão mundial”, um “ideal de vida”, simpatia e objetivo que o cooperativismo,
em idêntica abrangência e extensão, também representa para os seus
simpatizantes.
Por aqui, embora a sua relevância e apelo
socioeconômico, o cooperativismo financeiro, para falar de uma das vertentes
cooperativistas, detém parcela correspondente a apenas 2% da indústria
financeira (posição dos ativos, conforme dados do Banco Central do Brasil),
enquanto o nosso futebol, adorado entre os brasileiros e cultuado além de
nossas fronteiras, também não representa mais que 2% do PIB doméstico (segundo
a empresa Pluri Consultoria, de Curitiba – PR) e tem semelhante fatia do
mercado global da bola, que movimenta em torno de US$ 1 trilhão por ano (de
acordo com informações do Ministério do Esporte). Nos dois casos, tomando por
referência as melhores experiências internacionais em empreendedorismo
futebolístico e cooperativista, o potencial de expansão é equivalentemente
considerável.
A propósito, pensando em estratégias que
possam mudar o quadro, a aglutinação entre cooperativas (através de
incorporações e fusões) e o aprimoramento de sua governança têm-se mostrado
medidas exitosas para fortalecer e acelerar o seu crescimento lá fora e aqui,
soluções essas que também mereceriam ser testadas como movimentos a, no futuro,
tornarem os nossos clubes mais sólidos e virtuosos (intra e extra campo).
O sucesso do futebol tem tudo a ver com a soma
de esforços entre os atletas (cooperação/espírito de equipe). Nas cooperativas,
a união representa o seu próprio DNA. Em matéria de futebol e cooperativismo,
definitivamente, não se vence sozinho. A vaidade e o egoísmo (“eu tudo”), nos
dois casos, são nocivos e costumam ser fatais! (na lição de Bernardinho,
vitorioso e expoente do coletivismo esportivo, “a vaidade é inimiga do espírito
de equipe“).
Em ambas as iniciativas, o investimento em
“pratas da casa” costuma dar os melhores resultados, pois quem surge e cresce
dentro da cooperativa e do clube assimila a sua “cultura”, desenvolve o
espírito de pertencimento e verdadeiramente “veste a camisa”.
Assim como a ocupação de espaço no campo de
jogo é um movimento tático fundamental no futebol, a presença em localidades
pouco povoadas revela uma das grandes virtudes do cooperativismo financeiro.
Tanto no ambiente cooperativo quanto no
futebol, o protagonismo dos seus públicos é essencial para o alcance dos
resultados. No futebol, a torcida presente aos estádios representa incentivo
fundamental para as vitórias de seu clube, enquanto no cooperativismo a
participação dos associados motiva a direção para o cumprimento de suas metas e
assegura a sustentabilidade do movimento.
O futebol é um esporte inclusivo e
igualitário, em torno do qual todos os estamentos sociais, cores e credos se
encontram e confraternizam, enquanto o cooperativismo, por princípio, também
não escolhe ou discrimina os seus membros, sendo frequentado por ricos e
pobres, religiosos e não-religiosos, homens e mulheres, velhos e jovens,
partidários e apartidários, enfim, por todos que queiram usufruir de seus
benefícios. Aliás, tanto um quanto o outro, desde a sua origem, reúnem entre
seus fins mais nobres o combate a toda e qualquer espécie de preconceito e
exclusão sociais, incluindo o elitismo e o racismo.
Tal qual o cooperativismo, que tem entre os
seus objetivos melhorar a qualidade de vida nas comunidades em que atua, o
futebol carrega um apelo muito forte no campo da solidariedade, mobilizando
cada vez mais pessoas em torno de projetos voltados para crianças e jovens
carentes (vide, entre nós, as iniciativas do Cafu e do Raí, ex-craques da
Seleção).
Enfim, futebol e
cooperativismo, “identidade” de muitos e mais que presentes na cultura
universal, são, por definição, “patrimônio” de multidões, simbolizando uma
verdadeira copropriedade multicoletiva.
Não é sem motivo, portanto, que as duas
inciativas constituam forte apelo popular, e por isso são destaque nos meios de
comunicação. Como tema socialmente apreciado, a exemplo do futebol, o
cooperativismo, notadamente o financeiro, há algum tempo vem merecendo generoso
espaço na mídia, tendo caído no gosto do povo e, no seu âmbito, também caminha
para uma espécie de “preferência nacional”.
Agora, os cooperativistas temos de reconhecer
que o futebol leva a melhor em um importante quesito: a fidelização! Enquanto
no movimento cooperativo muitos associados militam (operam) também na
concorrência, no futebol isso é impensável. Imaginemos alguém ser torcedor do
Bahia e do Vitória ao mesmo tempo; do Flamengo e do Vasco; do Atlético e do
Cruzeiro; do Palmeiras e do Corinthians; do Atlético e do Coritiba; do Figueirense
e do Avaí;… do Colorado e do Grêmio…!? Sem chance! Que sirva de exemplo…
Bem, a Copa está aí (e aqui!), e, quem sabe,
voltemos a formar a “corrente pra frente”, dando impulso ao 6º princípio
universal do movimento cooperativo, unindo-nos, em intercooperação, com o
futebol brasileiro, do qual somos todos sociossimpatizantes!
Rumo ao HEXA dentro das “quatro linhas”, e à
conquista do troféu da igualdade, da inclusão, da dignidade e da prosperidade
sociais!
“La fórmula del hombre que quiere triunfar: no
luchar en solitario”! (homenagem à Espanha, atual campeã mundial de futebol.,
terra do Padre Arrizmendiarreta, fundador do grupo cooperativo Mondragón e
autor dessa máxima).
Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em
direito e em gestão estratégica de pessoas e autor de vários artigos e livros
sobre cooperativismo financeiro – área na qual atua há 30 anos -, entre eles “O
cooperativismo de crédito ontem, hoje e amanhã“. Atualmente, é diretor de
operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).
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